Capítulo: Não terceirizar culpas é um ato de sabedoria.

Capítulo: Não terceirizar culpas é um ato de sabedoria.
Trecho do livro: “Deus na Equação! de autoria de HAntonio
(Blog do HAntonio)

Não terceirizar culpas é um ato de sabedoria.

Conforme os mais relevantes ensinamentos religiosos e em conformidade com exemplos de espiritualidade na prática, desde os mais conhecidos e respeitados até os mais incógnitos, mas fieis representantes dos ensinamentos de Deus; independentemente da esfera social ou espiritual em que se encontram ou se encontravam as sociedades à época da exteriorização daqueles ensinamentos, o que pode ser constatado é que o ato de apontar culpados ou erros dos outros, nunca foi o meio mostrado como sendo o que leva a transformações pessoais, menos ainda, a transformações morais íntimas ou ao desenvolvimento moral do espírito. Em simples palavras: “terceirizar culpas não combina com o engrandecimento do espírito”.

Sob um ponto de vista particular e nobre, talvez uma das razões que o aspecto de apontar erros de terceiros não tenha sido usado por aqueles que procuravam ou procuram inspirar o bem e as transformações interiores nos seres humanos, seja a de não alimentar os hábitos de reclamar e de queixar-se nas pessoas; hábitos fáceis de serem fomentados e de fácil propagação.

Os hábitos de reclamar e de sustentar queixumes, de alguma forma, são armadilhas para a consciência; ocupando a mente com uma ‘aparente’ atenção na direção de algo que não está correto, mas que não a induz a nenhuma ação pessoal interior. E o pior, são hábitos que fortalecem a sintonia justamente com o oposto do que se deseja internamente – ou seja, estabelece sintonia com o que está sendo ‘objeto da crítica’ e, a princípio, deseja-se combater.

A energia envolvida nos vícios do criticismo, de brincadeiras aparentemente inofensivas e das fofocas não difere muito da envolvida nos hábitos culpar outros ou de queixar-se; sejam queixas a respeito do clima, de outras pessoas, de situações ou do que quer que seja. O fato é que atitudes que carecem de consciência, mesmo aquelas que aparentemente não causam mal algum a nada e a ninguém, como queixar-se do clima ou fazer uma brincadeira aparentemente inocente, criam um terreno fértil para a perda gradual de referências, levando-nos a enfraquecermos os dons da sabedoria, do discernimento, da sobriedade e – sutilmente, mas importantíssimo, o dom da fé.

Com a ausências destes, com o passar do tempo surge a sensação de desorientação e de desesperança, de destemperança e desarmonia e assim, as dores parecerão amplificar-se, juntamente com a sensação de angústia e impotência das pessoas.

Não terceirizar culpas também era um dos princípios do estoicismo, escola filosófica que conviveu com o cristianismo primitivo, época de perseguições aos que manifestavam a crença em Jesus Cristo. Penso que aquela escola filosófica tem muito a ensinar nos dias de hoje, em que o hábito de se apontar dedos culpando outros, tornou-se algo normal em nossa sociedade.

Aquela escola filosófica – estoicismo, constituiu uma escola moral, com uma filosofia clara e prática, em que a serenidade é a base. Para os filósofos dessa escola, nada era tão importante a ponto de fazê-los perder a serenidade. Para eles, era claro que, por maior que fosse o problema, a solução viria mais naturalmente se a serenidade interior fosse mantida. A moral cristã contém tal premissa, mas transcende a moral estóica, basta lembramo-nos dos exemplos de Jesus, nos quais jamais houve espaço para insensibilidade ou indiferença.

Aos que querem refletir sobre o tema, sob a ótica do estoicismo, há a possibilidade de leitura de filósofos como Epicteto e Sêneca e também conhecer um pouco sobre Marco Aurélio[1], que compuseram o grupo filosófico que foi denominado “novos estoicos”. A leitura deles me foi enriquecedora em certos períodos de minha vida e sou grato ao que aprendi com eles, mas, se tivesse que indicar uma única leitura sobre a importância da sobriedade e das virtudes a ela relacionadas, indico a leitura do livro: “As Sete Lâmpadas da Santificação”[2] de João Paulo I e João Paulo II, editora Ecclesiae, em especial do capítulo: “A virtude da Temperança” datada de 22 de novembro de 1978.

“O homem não pode chegar à espontaneidade maduro,
senão através de trabalho intenso sobre si mesmo e uma especial “vigilância” sobre todo seu comportamento.”


João Paulo II,
em “As Sete Lâmpadas da Santificação”

O fato é que fortalecer ou enfraquecer a consciência é uma escolha pessoal, que tem a ver com o que a pessoa opta para ela própria – seja a angústia e aflições que resultam ao manter sua consciência num nível inferior, alimentando hábitos que não fazem bem ao espírito, como queixar-se ou reclamar; ou então, optar por fortalecer a parte sagrada que habita cada ser, o que, sob nossa modesta capacidade de visualizar o futuro, envolve ao menos duas dimensões: a dimensão do conhecimento e a da prática pessoal da espiritualidade.

A dimensão do conhecimento nos dá instrumentos para fortalecer o nosso caráter e nosso intelecto, e a dimensão da prática da espiritualidade envolve, em essência, o exercício do amor e da fé em nossas vidas. Ambas as dimensões se entrelaçam e se fundem, promovendo a elevação do nosso nível de consciência.

Para haver essa fusão – do conhecimento com a espiritualidade, há a necessidade da criação e sustentação de um espaço-tempo sagrado dentro de cada ser, em que algum tempo pessoal seja dedicado à reflexão do conhecimento e algum espaço da vida da pessoa seja dedicado à experimentação de momentos de introspecção – com oração, contemplação e meditação É assim que as sementes do conhecimento se transformam e germinam; e, em meio ao silêncio de palavras, permeado por sentimentos de paz profunda há a percepção da presença divina, quando o amor e a fé manifestam-se em luminosidade interior promovendo o florescimento do espírito.

São nesses momentos que podemos nos conectar com energias sublimes e superiores advindas de Deus. Isso nos fortalece espiritualmente, refletindo no fortalecimento de nossa consciência, possibilitando-nos dar vazão ao fluxo espiritual do amor e da fé, que darão sustentação a nossas atitudes, ações, reações, pensamentos, sentimentos e também as emoções – afastando-nos do hábito de reclamar, de queixar-se e de terceirizar culpas.


[1] Livro sobre Marco Aurélio: Meditações; O Guia do Imperador; O imperador filósofo. [1] Livro: “As Sete Lâmpadas da Santificação” de João Paulo I e João Paulo II, editora Ecclesiae

[2]Livro: “As Sete Lâmpadas da Santificação” de João Paulo I e João Paulo II, editora Ecclesiae

Capítulo: “Não terceirizar culpas é um ato de sabedoria.”
Trecho do livro: “Deus na Equação!” de autoria de HAntonio
Publicado no Blog do HAntonio (hantonio.com)

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