Capítulo: “A jornada para a sabedoria.”

Capítulo: A jornada para a sabedoria.
Trecho do livro: “Deus na Equação! de autoria de HAntonio
(Blog do HAntonio)

A jornada para a sabedoria.

O conhecimento genuíno satisfaz. Ele nos alimenta e nos dá vitalidade, mas existe também para ser apreciado, compartilhado e utilizado por quem o recebe.

A satisfação gera o sentimento de preenchimento e quando há preenchimento, não há muito barulho. Imagine um barril metálico vazio – qualquer batida emite um som estridente, agora imagine o mesmo barril preenchido com água – a mesma batida produzirá um som mais profundo e pouco barulho.

Quem faz bom uso do conhecimento, dele se alimenta e sente-se preenchido. Quem faz bom uso do conhecimento sempre procurará usá-lo para o bem. Quem faz bom uso do conhecimento tende a hospedá-lo de maneira a apreciá-lo, a valorizá-lo e a usá-lo sem alardes. Fazer bom uso do conhecimento é um reflexo de sabedoria e o sábio nunca irá fazer muito “barulho”. Haverá satisfação e a sensação de preenchimento, mas, o sábio não usará o conhecimento para fazer “barulho”. Ele tem claro que é apenas um ‘portador’ do conhecimento, por isso buscará transferi-lo, compartilhando-o sempre que possível.

A transferência ou compartilhamento do conhecimento deve ser natural e sutil, na ação, com simplicidade e naturalidade.

A natureza do conhecimento genuíno nos inspira a afirmar que ele existe para ser compartilhado e não mantido isolado e escondido dentro de cada um. Quando não o transferimos – seja às nossas atitudes ou nas nossas inter-relações, ele aos poucos se esvai e sua ausência nos enfraquece. Quando só falamos, mas não praticamos, ao invés de ganharmos energia, nós nos desgastamos.

O conhecimento genuíno é força, em essência. Quando há sua prática, começa a haver aquisição de sabedoria e então a força do conhecimento começa a transformar-se em poder – o poder da sabedoria. O poder da sabedoria é bastante subjetivo, mas reflete-se, num nível perceptível, através do equilíbrio – nos valores, nas virtudes, no uso de nossos dons e nas ações.

O conhecimento genuíno está além dos nossos interesses momentâneos. Ele vem da Fonte e transcende nossos entendimentos. Mesmo que tenhamos a tendência de tentar moldá-lo às nossas realidades, em verdade, o que podemos fazer é traduzi-lo à nossa linguagem, para que possamos, primeiramente, entendê-lo, mesmo que parcialmente e, num segundo passo, trazê-lo ao nosso dia-a-dia.

Através do conhecimento genuíno podemos visualizar soluções com o foco adequado, sem supra dimensionar os problemas, aumentando nossa capacidade de superar situações que – sem a presença do conhecimento genuíno, podem parecer insuperáveis.

Com a maturação do conhecimento em nossas vidas podemos – com flexibilidade, paz interior e visão de longo alcance, passamos a lidar com as diversas realidades que se apresentam ao nosso redor sem abrir mão de nossos objetivos e princípios. O fato é que quanto mais nos aproximamos da essência do conhecimento genuíno, mais nos aproximamos de Deus e mais preparados ficamos para adentrar a jornada do caminho, da verdade e da vida, de acordo com o que Jesus Cristo nos ensinou há pouco mais de dois mil anos; mas que tão pouco aprendemos e absorvemos.

Uma armadilha que pode ser fatal é apenas “mitificar” o saber. Assim agindo, de imediato, estaremos levantando barreiras que podem tornar-se intransponíveis.

A visão apreciativa gera proximidade, enquanto a idolatria cria barreiras.

O equilíbrio na escolha entre apreciar e idolatrar dita os rumos que damos em nossas vidas e pode nos direcionar a apenas amar o conhecimento ou apenas a temê-lo, ou então, a perceber que ambas atitudes fazem parte de nossa relação com o conhecimento. Quando isso acontece, entendemos que o amor, e também o temor, não está relacionado ao conhecimento em si, mas ao que o conhecimento nos revela.

Assim, ambas as atitudes passam a nos mostrar o que é certo ou  errado, o que vem de Deus e o que não vem; o que é para o bem e o que não é. E muitas de nossas escolhas para o bem, para fazer o certo e para nos aproximarmos do caminho, da verdade e da vida, conforme Deus espera que o façamos, pode surgir de revelações surgidas tanto do amor quanto do temor do que o conhecimento nos revela.

“Enquanto as virtudes são qualidades permanentes conferida à criatura … e os dons aperfeiçoam as virtudes… os frutos do Espírito são atos virtuosos que a pessoa realiza com  facilidade, de modo habitual e com gosto.”[1]

Santo Tomás de Aquino


A sabedoria tem muito a ver com dons, valores e virtudes. Os valores estabelecem os parâmetros e os limites que devemos respeitar, mostrando-nos como devemos viver; as virtudes ‘lubrificam’ as nossas engrenagens mentais, possibilitando a harmonia entre os valores e nossas atitudes, sentimentos e pensamentos, e então, há o desabrochar espontâneo de dons em nossas vidas. Isso pode acontecer em momentos, etapas e períodos os mais inesperados de nossas vidas. 

Como nos lembra João Paulo II, sobre a fala do Apóstolo Paulo, ensinando-nos sobre o “Fruto do Espírito”; e ele ressalta o uso da palavra – fruto – no singular, indicando que o fruto, por excelência, é a própria caridade divina.[2] 

Na medida em que valorizamos algo, começamos dar importância àquilo e a criar referências baseadas naquilo. Daí a importância de estarmos conscientes de quais são os valores que estamos nutrindo em nossas vidas; de quão virtuosos estão sendo nossos atos e o quão frutuosos estão sendo os dons por nós recebidos.

O equilíbrio dos valores, das virtudes e dos dons em nossas vidas expressa o grau de sabedoria que atingimos e, quanto maior este grau, menores as chances de extremos como rigidez exagerada ou arrogância assumirem o comando das ações. De algum modo, podemos assumir que quanto mais equilíbrio experimentamos, mas fraternos e ‘caridosos’ nos tornamos.

A caridade e a fraternidade são expressões de sabedoria.”

Equilíbrios como ser jovial e ter maturidade, ser disciplinado e ter flexibilidade, amar e ser desapegado, saber quando estar na frente ou na retaguarda são alguns frutos que a sabedoria propicia. Basta lembrarmos alguns exemplos que passaram por nosso planeta como: São Francisco de Assis, Mahatma Gandhi, João Paulo II, Madre Tereza de Calcutá, Albert Einstein, Dalai Lama e muitos outros exemplos de pessoas que, desde as mais santas, às mais inteligentes ou às mais caridosas, sempre exibiram sabedoria a seu jeito, manifestando ambas: jovialidade e maturidade, seriedade e leveza, autoridade e humildade. Mas, um aspecto que amplifica o alcance do que cada exemplo que escolhermos, seja de alguém conhecido ou alguém incógnito, é o quão caridosa aquela pessoa foi. A caridade, de algum modo amplifica o alcance das ações por elas propostas.

Neste sentido, podemos intuir que a caridade e a fraternidade são expressões de sabedoria.
Enquanto a sabedoria nos leva a nos sentirmos aprendizes, a arrogância nos arremete à areia movediça de nos sentirmos “donos da verdade”. Enquanto a arrogância do intelecto nos conduz a complicar o que é simples, a sabedoria nos conduz à arte de simplificar o que é complicado. Enquanto a sabedoria nos estimula a harmonizar, a falta dela nos induz a desarmonizar – ou seja, a atitude sábia nos conduz a unir, a amar e a perdoar, enquanto a outra nos induz a separar, a abominar e a penalizar.

Em essência, quando pensamos em nossa jornada de vida rumo à aquisição de sabedoria – e, junto dela, de humildade, fica claro que estamos ainda distantes de conhecê-las mais intimamente, e fica claro também que ter atitude caritativa e visão apreciativa nos ajudam a abrir as portas para aprender o que é importante na vida, ensinando-nos a amar o conhecimento genuíno a nós deixado por Jesus Cristo.
Cabe-nos valorizar os presentes de sabedoria que recebemos e termos a humildade de perceber que Deus, muito mais que nós próprios, sabe o que precisamos aprender e praticar.

Que possamos todos fazer nossa jornada para a sabedoria divina com fé, esperança e com as bênçãos de Deus e que a caridade nos una, a todos, nesta jornada.
Que Deus nos ilumine a todos!

[1] Cf. Santo Tomás de Aquino, Summa theologiae, I.-II, q.70 a. 1, ad 2.
[2] As Sete Lâmpadas da Santificação” – J.P II em 20.outubro de 1999 – pg.91 1ª edição, Ed. Ecclesia E

Capítulo: A jornada para a sabedoria.
Trecho do livro: “Deus na Equação!” de autoria de HAntonio
Publicado no Blog do HAntonio (hantonio.com)

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